sexta-feira, 28 de março de 2008


"Atenção, jovem do futuro:
Seis de setembro de 2120, aniversário ou centenário da Revolução Socialista Mundial, que unificou todos os povos do planeta num só ideal e num só pensamento de unidade socialista, e que pôs fim a todos os inimigos da nova sociedade.
Aqui fica somente a lembrança de um tristre passado de dor, sofrimento e morte.Desculpem, eu estava sonhando quando escrevi esses acontecimentos que eu mesmo não verei.Mas tenho o prazer de ter sonhado.
Chico Mendes"

Carta de Chico Mendes revela lutas e perseguições na década de 80


Xapuri 18 de outubro de 1987
Prezados companheiros e companheiras Estamos chegando ao final de 1987. Um ano de muita luta de grandes sucessos, mas também um ano de muitas perseguições e calúnias.Todos nós, mais uma vez somos convidados a nos mantermos unidos, cada vez mais na fé, na coragem e na confiança e esperança de vencer. Precisamos mais do que nunca estar unidos, pois desta união depende o nosso futuro, o futuro de nossos filhos. As forças inimigas estão se organizando para nos combaterem. Estas forças são os fazendeiros, e o prefeito de nossa cidade, juntamente os políticos que o apóiam.E nós vamos ficar de braços cruzados?..A igreja também está sendo atacada e nós vamos ficar calados?... Companheiros, assim não dá. Vamos à luta. Neste sentido, convidamos todos os delegados sindicais desta área e todos seus auxiliares para um grande treinamento de lideranças sindicais, a se realizar nos dias 27, 28 e 29 de dezembro. Não faltem, por favor. E dia 30 a 31 de dezembro, grande assembléia geral do sindicato. Aí é hora de todo mundo comparecer, homens e mulheres, pois a luta é de todos nós. Precisamos nesta assembléia aprovar nossos planos de luta para 1988, pois neste ano, pela primeira vez vamos enfrentar as forças da maldita UDR.Espero contar com a colaboração da todos vocês.
Saudações sindicais do companheiro
Chico Mendes

Artigo publicado no blog Xapuri News recentemente pelo meu amigo Joscíres Angelo




Terça-feira, 25 de Março de 2008

Na Roda a discussão é Cultura
Pouquíssimas vezes pude estar presente em Xapuri num grupo tão seleto de jovens e representantes de Instituições ligadas à Cultura e às diversas manifestações artísticas que realmente estivessem interessados em produzir cultura popular como meio de transformação social e de absorção de valores da realidade local.Iniciou hoje através da Iniciativa do Instituto Chico Mendes por sua Presidente a Jovem Elenira Mendes um Encontro de Planejamento para Ações de intervenção na área cultural de Xapuri, contando com a participação de representantes do Ministério da Cultura, Fundação Elias Mansour, Instituto do Patrimônio Histórico Nacional, Museu Xapury, Grupos Locais ligados a produção Cultural, onde destacamos: o Poronga e o Arte na Ruína e Coordenação da Quadrilha Rabo de Saia, entre outros agentes promotores da cultura local. O encontro em destaque está acontecendo na Pousada Villa Verde, onde hoje durante todo o dia estiveram destacando as principais dificuldades encontradas, bem como as iniciativas existentes que mesmo sem o apoio devido do Poder Publico Local, encontramos ações na área cultural que demonstram facilmente o carinho e força de vontade que cada um mantém acessa.Elenira Mendes na abertura do Encontro ressaltou da importância do Instituto Chico Mendes em estar fomentando tais atividades tendo em vista que a Instituição fora pensada numa perspectiva jovem, alicerçado nos conceitos do movimento ecológico idealizado pelo Grande Mártir Chico Mendes, numa exposição clara e precisa descreveu sucintamente a natureza da Instituição, sua visão e objetivos .Na oportunidade também fora exposto no âmbito de produção cultural pelos Jovens Clenis Alves e Diego Ferraz a fase declinante que tem observado em Xapuri principalmente no tocante ao fomento dos órgãos públicos que praticamente inexiste a muito tempo, nessa ampla apresentação da realidade o Jovem Artista Plástico Wagner San expôs a experiência do Grupo Arte na Ruína que é na verdade uma provocação no sentido de sensibilizar toda a sociedade xapuriense a buscar alternativas viáveis voltadas a Produção cultural, provocação esta que se constitui em um grande marco de mostrar o novo, que pode inclusive marcar historicamente uma passagem de conceito de produção artística num ambiente que hoje a nível municipal, permeia a falta de incentivos.Interessante que no transcorrer do encontro percebia-se a interação de todos e a motivação nas discussões que de fato interessava aos presentes.A representante do Ministério da Cultura a senhora Keilah Diniz ressaltou da importância de focalizar esforços em produzir alternativas que realmente estejam voltadas à cultura local, dando sua importante contribuição no levantamento de situações problemas encontradas a nível de município, demonstrando bastante interesse e engajamento com a área cultural, enfrentando com bons sorrisos uma caminhada pelos principais pontos do centro de Xapuri que Promovem a Cultura numa visita que iniciou na Fundação Chico Mendes, Casa de Leitura, Centro de Memória Chico Mendes, Ruínas da antiga Delegacia de Policia local onde acontece as apresentações do Grupo Arte na Ruína, Centro de Lazer para a Juventude Caleb do Nascimento Mota, Museu dos Xapurys e Casa Branca, tendo ainda energia juntamente com o grupo de jovens a encerrar as 18:00h o primeiro dia de encontro, sendo que ainda ocorrerá nesta quarta e quinta-feira a conclusão do Planejamento idealizado, o que de certo é uma boa pedida a todos, que possam estar contribuindo para com este gesto de transformação cultural.Realmente hoje tive o previlégio de ter literalmente um dia cultural, já que a cultura esteve na roda.Joscíres Ângelo.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Pra não dizer que não falei da juventude...

Pesquisando na internet, encontrei esse texto, e resolvi postar, pois achei tal poesia de um nível idêntico aos desejos e anseios que eu, e os demais integrantes do grupo Arte na Ruína... Sonhamos... Com um mundo mais justo, sem sensura à arte, e com mais espaços para manifestações artisticas e culturais. Infelismente, é difícil trabalhar com arte e cultura em Xapuri, mas, com união, esforço e acima de tudo sonhos, estamos conseguindo mostrar nossa arte através de sonhos que começam à se tornar realidade.
Fica aqui postado o meu orgulho de fazer parte do "movimento" Arte na Ruína, e afirmar que é possível realizar sonhos, desde que nunca deixe de sonhar...

Diego Ferraz

Pra não dizer que não falei de Juventude

Onde foram os jovens que enfrentam canhões?
Onde foi a música que arrastou multidões?
Onde foi o sonho de o mundo mudar?
Será que todos eles pararam de sonhar?

Tinham tantos sonhos, muito brilho no olhar
Não tinham medo de a vida entregar
Em todas as partes estavam aos milhões
Era nas escolas, campos, construções...

Quem roubou o sonho e a esperança?
Quem matou a verdade de nossas crianças?
Quem usou da mídia pra enganar?
Quem te contou que os jovens pararam de lutar?

Onde foram os jovens que pintaram a cara?
Onde estão aqueles que provaram o pau de arara?
Onde foi aquele grito forte de tanta dor?
Não podemos parar, gritem por favor!

Falta muita luta, muita busca, muita dor
Ainda não estamos vivendo...
Ainda não estamos vivendo...
Ainda não estamos vivendo...
Na civilização do amor...


de Juliano André Romitti Fleck
Ijuí - RS

Sala Eternamente Dallyanna

Câmara do espetáculo "Arte na Ruína" em homenagem à atriz xapuriense Dallyanna Lima, que sonhava em vida com o reconhecimento do artista e amava atuar... Atriz, mulher, mãe,palhaça, Dallyanna tinha muitos sonhos, e o projeto "Arte na Ruína" vem como um movimento artístico, no qual se estivesse aqui, ela estaría, com certeza participando e mostrando sua arte de maneira simples, bonita, em fim, ela mesma! Creio que qualquer homenagem feita, é pouca, pois Dallyanna era acima de tudo, querida por todos aqueles que a conhecíam... Saudades Eternas de seus amigos, em especial, Clenes Alves, ao qual mantinha uma relação de verdadeiros espíritos irmãos, a quem eu, Diego Ferraz, considero como um grande amigo...

O que dizer do imensurável

Por Joscíres Ângelo

Olhando as postagens do Arte na Ruína muito me alegra pela grandiosa vontade deste grupo em trazer aos nobres xapurienses a graça e a magnitude da arte pelo seu ângulo mais perceptível o da realidade. Ao passo que decaio numa grande tristeza em perceber que a política cultural de Xapuri se esfalece na tolice congênita dos agentes públicos responsável pela manutenção do gênero artístico neste município.
É válido ressaltar que nesta cidade grandes movimentos culturais nasceram e sobreviveram ao longo de algum tempo unicamente pela iniciativa popular que sempre estiveram à frente das iniciativas e digamos com apoio quase inexistente do poder público. Cito nesse ínterim a criação do Grêmio Cultural Madre Petronilia Trinca em 1953 pelos jovens do então Instituto Educacional Divina Providência, que marca a entrada dos jovens xapurienses nas diversas expressões artísticas entre elas o curso normal de piano para moças que era realizado na própria escola bem como eventos esportivos e teatrais sempre a cargo dos Frades Servos de Maria que aqui residiam.
A partir deste marco inicial, muitas iniciativas na área da musica, teatro e pasmem até mesmo na literatura foram amplamente difundidas entre a juventude pacata e ordeira de Xapuri nas décadas de 60, 70 e 80, sempre sem o apoio do Poder Publico. Essas décadas são marcadas pela chegada dos migrantes sulistas que contribuíram decisivamente para miscigenação de uma estrutura cultural, fortemente alicerçada na realidade local.
Se formos considerarmos as expressões artísticas neste rincão amazônico, devemos primeiramente agradecer sempre a atitude dos jovens xapurienses, que sempre estiveram a frente dessas transformações, às vezes tidos como rebeldes, indisciplinados. Não, plenamente, incompreendidos sim, rebeldes jamais, dispostos a mudanças sim... Indisciplinados não... Diferentes do padrão adotado por isso difíceis de serem interpretados.
É nesse contexto que se apresenta a proposta dos Jovens integrantes do Arte na Ruína, verdadeiros navegadores que lançam seus horizontes num objetivo claro e preciso o de sensibilizar a população e os agentes públicos, para com o grave descaso que a cultura vem sofrendo nos últimos anos em Xapuri. O que dizer então de tão nobre intenção??? Exaltar a iniciativa e ver que há necessidade de fortalecermos tal movimento para que não seja o apelo unicamente de um grupo, mas de uma sociedade toda...
Conheço todos os integrantes do Arte na Ruína e vejo com bons olhos tal movimento iniciado com muita garra dedicação e acima de tudo qualidade nas suas apresentações e alegro em saber que tenho certeza de que este pequeno fragmento do novo alvorecer das expressões artísticas em Xapuri se constituirá numa nova realidade vindoura...

Parabéns aos integrantes do “Arte na Ruína” pela iniciativa.

Pracinha "do Grupo"

Encontrei esta imagem antiga de Xapuri, com uma praça (que não existe mais) e resolvi postar para aqueles que sentem saudades de Xapuri como a princesinha do Acre, nos tempos em que tínhamos os nossos patrimônios históricos preservados! Também para que as novas gerações vejam o quanto era bonita e aconchegante a antiga praça que hoje ocupa um "Centro de cultura e lazer". Sou à favor do progresso, desde que ele não ofenda à memória e identidade do município.

"Arte na Ruína"


Xapuri a princesinha do Acre, conhecida internacionalmente por ser o palco de grandes acontecimentos como por exemplo; O surgimento do líder seringueiro/Chico Mendes, símbolo do ecologismo na história deste país. Entretanto a realidade dessa pequena cidade revela o engessamento contínuo das suas relapsas administrações. Em especial o cenário sociocultural de Xapuri como a maioria das pequenas cidades interioranas do país, também enfrenta a falta de apoio em projetos que incentive e que invista no seu desenvolvimento. O descaso do poder público e a desmobilização da sociedade inebriam a implementação de políticas públicas, que por vez impede o direito da autonomia, da liberdade na criação e no acesso ás fontes de cultura.
Por vez, surgem os jovens - atores que historicamente denuncia através da arte à agressão imposta pelo sistema vigente que fragmenta e viola seus direitos em construir um ambiente alternativo. No entanto, num âmbito mundial, os inúmeros movimentos de transformação social que as ultimas décadas viram surgir, tiveram, como seus principais articuladores os jovens. Esses movimentos geraram exemplos que perpassadas, alimentam e revigoram as vísceras desses jovens artistas xapurienses que por sua vez se estimulam a movimentar-se e agir localmente numa marcha que os guiam para uma intervenção que só os homens audazes ousariam buscar.
Surge assim - “Arte na Ruína” à antiga delegacia de Xapuri, que fora desativada. Após seis anos ao relento, o ambiente revelara a desconstrução causada pela erosão que denuncia; O caos políticos, a sujeira, os destroços e os rabiscos históricos de quem ali fora encarcerado. Os tão tumultuados desencontros da juventude de Xapuri em obter um espaço que abrigasse as suas criações, dão lugar agora ao encontro entre os Jovens e “Arte na Ruína” denominada assim à antiga delegacia.
A juventude de Xapuri se utiliza das expressões artísticas para dar forma a uma nova linguagem de intervenção no seu espaço social. Através do teatro, dança música, artes plásticas, poesia e outras expressões, eles conseguiram reviver o que parecia distante; A mobilização da sociedade. Com um cenário alternativo e um novo tipo de critica social, esses jovens estão possibilitando uma nova realidade sociocultural que ate então nunca se vira ou ouvira.
A juventude encontrou no Instituto Chico Mendes o parceiro ideal para estruturar e otimizar o espaço “Arte na Ruína”. Essa aliança obteve como resultado no ano de 2007, através do espetáculo intitulado “O ensaio surreal do grito sufocado” mais de 10 apresentações; com espetáculo registrado em documentário, textos e outros. O espetáculo recebeu assim um público estimado em mais de 1050 pessoas; Crianças, jovens e adultos.

Impressões de uma viagem amazônica


Por Michele Sato

A menos de 50 metros da casa de Chico Mendes, a delegacia de polícia fora abandonada, já que a justiça parece ser um artigo de luxo neste país chamado Brasil. Somente a coragem e o engenho de jovens rebeldes recriariam aquele lugar, transformando ruínas em potencial de sonhos. Clênio e Wagner San tiveram trabalho em convencer o grupo de jovens de que aquele local abandonado seria um palco ideal à arte de Xapuri, mas o trabalho maior viria depois, na hora da limpeza e na arrumação do local abandonado, que entre entulhos e vestígios de impunidade, ainda oferecia desajustes físicos em pedaços.

Tudo arrumado, afinal, Amarildo anunciava poeticamente o espetáculo da floresta no alto do telhado da delegacia, com os letreiros (não luminosos) atraindo o público: "arte na ruína". Sua voz ecoava facilitada pela ausência de tetos e telhados, e Cildo cuspia seu desprezo à injustiça em fogo malabarista num circo que mostrava o sol em plena noite. A recepção especial veio pela poética de Clenes, que me convidava à entrada de sua viagem de fantasias.

A primeira sala emanava fitas, panos e tecidos coloridos confundidos nos corpos camaleônicos de 3 dançarinos. Disfarçados de corpos humanos, Cley, Cleo e Gino eram as brisas que se movimentavam ao sabor de notas musicais, ultrapassando barreiras físicas e tornando as paredes apenas uma ilusão, pois suas danças flutuavam no orbe de encantos. E o corpo se prosseguia em outra sala, desta vez numa prisão de grades que escondia Rômulo, mas que barreira nenhuma o privava de sua liberdade. Desenhos, gravuras e quimeras brincavam com as esculturas do San, num contraste da dor e da alegria da performance.

Xapuri mostrava sua cara na voz de Alarice, como se Cazuza encarnasse a fome pela vida na mágica sinfonia destes jovens talentosos. João Paulo, Jarede e Rafael também embalavam o rock and roll dilacerante, como se a sonoridade inquieta pudesse libertar as almas vagantes ao mundo da paz. A tênue linha que segregava solidão e conflitos enroscava na pipa que voava pelos ares no show coletivo daquela arte sensível. E a representação teatral veio por Clemilsa e seu filho Diogo, Leleide, Getúlio, Aíton e pelo próprio Clenes. A poesia declamada deitava-se no chão, e ali as estrelas iluminavam aquele palco construído numa delegacia destroçada.

Queria ter chorado em silêncio, apreendendo cada momento como se fosse o último, na sensação vazia de que jamais presenciaria tamanho espetáculo. Mas naquele momento, compreendi que meu silêncio poderia ter interpretação contrária e balbuciei algumas frases, talvez sem nenhuma conexão sensata, mas as únicas possíveis naquele momento. A grandeza do instante veio em forma deste texto num quarto de hotel, quando a memória recusava a esquecer a coragem imaginativa de jovens arguciosos que me mostravam suas feridas, em uma das feridas arquitetônicas da história de Chico Mendes. Imanentes em suas dores romperam grades, quebraram janelas, voaram céus e transcenderam suas angústias. Se o sonho é algo possível, ele estava ali, excitadamente apresentado naquele instante que vencia cansaços, ruínas e tempos e se consagrava na alegria mais expressiva da raça humana: a arte!